domingo, 29 de janeiro de 2017

A adolescência aos (quase) 18 meses

Eu devia ter previsto isto. Os sinais foram aparecendo, de forma subtil, mas lá está, eu não quis ver! Quis acreditar que era apenas um boato/rumor/lenda (chamem-lhe o que quiserem), que esta fase era imaginária, inventada por mães muito cansadas. Mas eis que um dia aconteceu: o meu dócil bebé foi raptado durante a noite para uma experiência extraterrestre, e foi substituído por um clone bastante zangado com a vida.

Estão a ver aqueles gremlins fofinhos, amorosos, que só apetece apertar e dar beijinhos, mas que se transformam em pequenos monstrinhos quando entram em contacto com a água ou são alimentados depois da meia-noite? Pois é. Por aqui tem sido mais ou menos assim. O Dinis continua a ser um bebé fofo e amoroso, mas a transformação pode ocorrer a qualquer momento e por qualquer motivo que vocês, coitados, nunca mas nunca vão ser capazes de identificar. Estás com pressa e vens carregada de tralha e carregaste no botão do elevador, em vez de lhe pegares ao colo para ele carregar? Deste-lhe meia bolacha e não uma inteira? Deste-lhe a banana em rodelas, em vez de inteira? A água não está no biberão que ele quer? Como te atreves?! O drama. O terror!

Os sinais foram aparecendo e nós fomos ignorando. Fomos culpando os 4 caninos, que resolveram começar a romper todos ao mesmo tempo ou a ausência temporária do pai durante a semana, como já expliquei aqui. Mas a verdade é que a fase do "NÃO!" veio para ficar, e mesmo assim, em maiúsculas.

Tudo é "Não!" por aqui. Todas as perguntas que se fazem têm "não" como resposta, beijos e abraços vêm sempre acompanhados de um grande "Não!!" e afastamento ou fuga! Mesmo as coisas que me pede, como água, são rejeitadas imediatamente quando lhas dou. É difícil convence-lo a vestir-se e igualmente difícil convence-lo a despir casaco e descalçar-se quando chega a casa. Quando o vou buscar à creche recusa-se a vir comigo, e tirá-lo efectivamente de lá é tarefa para 10 homens bem treinados. A sério, malta do crossfit e afins, liguem-me! O verdadeiro treino está aqui, e sinceramente estou cansada de ter que explicar aos outros pais que sim, esta criança que estou a levar aos berros e a espernear é mesmo o meu filho; e que não, não sou uma maluca qualquer a raptar crianças de creches onde consegui entrar à socapa.

Claro que no início panicámos todos aqui por casa. Eu e o Pedro desenvolvemos um ligeiro sindrome pós-traumatico, e os animais estão notoriamente a manter um perímetro de segurança. Mas estamos a lidar com isto. Fiz alguma pesquisa (sim, eu sou dessas), e desenvolvemos algumas estratégias positivas para o ajudar quando tem um destes episódios, mas o mais importante a reter é que isto é perfeitamente normal. 

Todas as crianças têm esta fase. Ela pode acontecer com mais ou menos intensidade, algures entre os 18 meses e os 3 anos. Este comportamento tempestivo e opositor faz parte do crescimento, e é, na verdade, um bom sinal do desenvolvimento da criança. Pois é, isso mesmo. O nosso bebé está a transformar-se num rapazinho, está a desenvolver a sua personalidade. Nesta altura, o bebé sente um grande desejo de imposição da sua vontade e de ganho de autonomia. A aquisição do "Não" é apenas uma parte de todo este processo. É também uma das etapas mais importantes para a construção da sua auto-estima e para mais tarde em adulto ter a capacidade de dizer não! E também, sejamos sinceros, quando é que um bebé ouve sim? Quando? Quando é que dizem sim ao vosso bebé? Uma das metas enquanto pais, é que os bebés percebam e obedeçam quando se diz um não, mas depois é todo um drama digno de novela mexicana quando ele por fim o entende e põe em prática!

O facto de descarregar todas as suas frustrações nos pais (especialmente na mãe, devo dizer...) é também um óptimo sinal. É sinal de que o vínculo emocional é forte, e que quando está connosco, sente que pode ser quem é, e que nós não vamos a lado nenhum, não o vamos deixar, somos o seu porto seguro.

Como estamos, então, a lidar com isto? Primeiro, com muita calma e paciência, aparentemente. Respiramos fundo. Tentamos controlar a birra para que não se magoe (nem a mais ninguém). Vamos explicando tudo o que se está a passar, e porque se sente tão chateado com a vida - por exemplo, quando tem cocó e tem mesmo que mudar a fralda. Mesmo que achemos que ele não percebe patavina do que estamos a dizer, ir falando com ele de forma tranquila penso que o ajuda.

Tentamos estimular a autonomia com pequenas coisas. Deixamos, por exemplo, que escolha entre duas camisolas, antes de se vestir. Deixo-o escolher qual a fruta que come ao jantar. Executa pequenas tarefas simples sozinho, como comer e lavar os dentes. Tentamos que faça as coisas por imitação: mostro-lhe que estou a despir o meu casaco e a tirar os sapatos. Com isto ele quer fazer o mesmo, e elogio quando o faz. Damos ainda mais muitos beijinhos e abraços entre nós, e ele vem logo a querer também! Tentamos também corrigir o não que é um sim, e dize-lo, para que aprenda a diferença. Por exemplo, quando ele pede água ou uma bolacha, e quando vamos dar perguntamos "Queres, filho?" e ele diz que não ou abana a cabeça, respondemos "Sim filho, queres a água!".

E no meio disto tudo aguardamos pacientemente que o "Sim!" surja nas nossas vidas. Repetimos o mantra "Um dia o sim vem......um dia o sim vem.....um dia o sim vem..." e vamos aprendendo e absorvendo todas as outras coisas MEGA giras que esta fase também trouxe! As palavras novas que diz, a sua forma de pensar e resolver problemas, as brincadeiras cada vez mais evoluídas!

Quando o sim aparecer, nós avisamos!



Sem comentários:

Enviar um comentário