quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

A casa não chora!

Ando mais ausente da página e do blog. A vida é sempre assim, não é constante, e quem tem filhos pequenos sabe isto melhor que ninguém. O bebé hoje fica ali quieto e amanhã já rebola. Hoje gatinha e amanhã anda. Hoje é uma fofurinha que anda ao sabor das nossas vontades e amanhã chora porque não quer tomar banho. É assim a vida, muda, e é aceitar e adaptar ou ir à loucura a tentar resistir.

As coisas mudaram um pouco cá por casa. O meu horário de amamentação mudou forçosamente por incompatibilidade com o serviço, e passei a acumular as duas horas de manhã, em vez de sair as duas horas mais cedo. Imaginei eu, triste mulher iludida, que acumular as duas horas (em oposição à outra opção que seria 1 hora de manhã e outra de tarde) iria render muito mais! Na verdade, ainda considero que renda mais, só tenho que melhorar a minha capacidade de selecção das coisas que pretendo fazer de manhã, em vez de acreditar que vou conseguir fazer tudo. É aqui que reside a minha fraqueza: querer fazer tudo!

Neste momento só temos um carro, o que implica que acordo à mesma hora, levo o Dinis à creche e o Pedro à estação, e só aqui perco cerca de 30 minutos. Vou para casa, tomo o pequeno almoço, e depois começam os problemas! Eu quero cozinhar e deixar a cozinha arrumada, limpar o chão, pôr roupa a lavar, limpar o wc, fazer as camas, arrumar roupa, levar o cão à rua, vestir-me e pôr um ar decente em 1h30, tudo enquanto bebo graciosa e tranquilamente um balde de café. Não é fácil e, especialmente, não é possível! É, basicamente, uma receita para o desastre e para a frustração. 

Eu não sou uma pessoa organizada, apesar de fingir bem. Sou a pessoa que começa 6 coisas ao mesmo tempo, vai deixando o rasto espalhado, e quando olho à volta e vejo tudo inacabado, sou incapaz de me controlar - basicamente perco ainda mais tempo a hiperventilar por 10 minutos a decidir se e por onde vou começar a resolver a trapalhada ou se vou antes pegar fogo a tudo. E entretanto tiro mais um café, porque tem mesmo que ser e este é o que definitivamente me vai ajudar a fazer esta bosta toda! 

E isto é só a manhã! Depois vem a tarde. Costumava conseguir orientar algumas coisas à tarde antes de o ir buscar, nomeadamente as compras. A primeira vez que fui buscar o Dinis à creche depois das 17h, tinha tido uma consulta, e fiz o caminho para lá quase em lágrimas. Sou uma maricas, querem o quê? Agora que chego à estação por volta das 17h20, é impensável fazer seja o que for, que não seja pôr o turbo e voar para a creche.

E depois as noites... ai, as noites!!

Estamos a passar uma fase má. O Dinis sempre dormiu bem, com algumas excepções. Doenças, dentes, picos de crescimento e outras coisas pontuais. Era tiro e queda, ia para a cama às 21h e era até ao dia seguinte. Mas ultimamente, acorda 3 a 4 vezes por noite. Chora imenso, uma lamuria sem fim, chama "MAMÃAAAAAAAA" desesperadamente!! A maior parte das vezes vou lá, dou-lhe um beijinho, ajeito-o na cama com o doudou e volta a adormecer. Outras vezes, tenho que dar colinho até se acalmar. Pelas minhas contas temos toda uma série de factores fofinhos a funcionar: pico de crescimento e de desenvolvimento (evolução da fala) e dentes a nascer. Que coincidência de sorte, han?

No meio disto tudo, o cansaço e a desorientação instalaram-se. Andamos cansados, baralhados, irritadiços. Andamos lentos e a tentar encontrar o equilíbrio. No meio disto tudo, olho tantos anos para trás e vejo a minha mãe. Vejo-a desesperada a tentar ter tudo feito, vejo o que eu chamava de "Síndrome de Relatório". Vocês sabem qual é, aquele momento em que acordavam às 11h de sábado e a vossa mãe andava de mangas arregaçadas, a dizer "já fui ao mercado, fiz o almoço, limpei a casa de banho, lavei o carro, bla bla bla bla" - porque a meio da frase ela começava a soar igualzinha à professora do Charlie Brown. E eu encolhia os ombros e revirava os olhos em conjunto com a minha irmã, sem perceber o drama.

Minha querida mãe, se eu soubesse o que sei hoje! As mães são super-heroínas sem capa, com super poderes invisíveis que salvam o dia à família, e que ninguém percebe como. Correm, voam, para o pão ser fresco, para a sopa estar feita, a roupa passada na gaveta, a casa limpa. Fazem tudo não porque têm que fazer, mas porque querem. Porque desejam fervorosamente que esteja tudo bem e que nada falte aqueles que mais amam. E no fim do dia, deitam-se com sentimento de culpa, porque acham que deviam ter passado mais tempo de qualidade com o bebé.

Desde que o Dinis nasceu que eu sinto que no meio do choque inicial, das borboletas, dos sorrisos, do colo, da felicidade, do pânico, e do amor incondicional, ser mãe é uma constante luta interior entre a culpa e a necessidade de perfeição. Quanto maiores as expectativas que pões para ti mesma, mais frustrada e culpada te sentes! E a vizinha tem sempre a casa limpa e cheirosa, a tua amiga tem as unhas e as sobrancelhas arranjadas, a outra amiga nunca tem pilhas de roupa por passar na sala, quando a visitas. Nas redes sociais as mães são perfeitas, vestem roupas muito modernas, têm o baton a combinar com o verniz, as casas são todas em tons pastel e os miúdos nunca têm ranho.

Pois bem. Eu não sou perfeita, e a minha vida tem dias de caos muito semelhante ao eixo norte-sul, em hora de ponta num dia de chuva. Por acaso, pelo meio, sou mãe de um bebé de 16 meses.

Hoje, em conversa com uma amiga, ela disse a frase perfeita, que encaixou como uma luva no que eu estava a sentir: "Não quero saber da casa. A casa não chora!"

Hoje vou-me sentar a brincar com carrinhos. E vou adormecer feliz.






Sem comentários:

Enviar um comentário